segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Brasilidades II

Por Z. Leid Silva

   Poucos dias após ter publicado meu texto "Brasilidades" tive um encontro que me obrigou a escrever uma segunda parte sobre o tema.
   Há duas semana fui no Molly Malones, típico PUB irlandês de Los Angeles (apreciem a ironia) com música ao vivo, a convite de uma prima que era amiga da vocalistade uma banda a qual iria se apresentar.
   O ambiente era escuro, devido às poucas luminárias de teto que balançavam, dando movimento as sombras que dançavam nas paredes de tijolos vermelhos. Eu bebericava uma stella meio-morna no ambiente esfumaçado (apesar da proibição do fumo) ao som energético e pulsante do rock com um  pézinho no folk do "The Cannyons" (vale dar uma olhada no youtube).
   Ao final do show , estava saindo do bar para conhecer a banda quando fui abordado com a seguinte frase proferida em um doce gauchês: "Vocês já vão embora?"
E no susto de ouvir a minha língua natal em um local tão pouco propicio, me virei e deparei com uma linda loirinha no final dos seus 20 anos.
   Carol, a gaúcha vocalista de uma banda americana de samba que iria se apresentar em poucos instantes no mal iluminado palco do Molly Malones.
Depois de papear por poucos minutos e ganhar um sonho de valsa da brasileira, fui assistir o show.
   E descobri então, em Los Angeles, num PUB irlandês, uma banda americana com uma vocalista gaúcha uma das mais cariocas canções.

http://www.youtube.com/watch?v=CsqKGKsW-Ts&feature=youtube_gdata_player

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Glória a deus! - Boris Y.

Ontem foi o dia mais quente do ano no Rio de Janeiro, muitos devem ter corrido direto do trabalho para casa e ligado o ar-condicionado, era o que eu deveria ter feito, mas não, fazer o óbvio, o lógico e o mais agradável parece ser uma tarefa muito difícil para mim.

Minha história começa na manhã de ontem. Decidi que iria direto do trabalho para o jogo do Fluminense no Engenhão, o plano era ir do centro de moto com o meu irmão. Separei camisa, tênis, meia e bermuda na mochila e fiquei uns 15 minutos olhando para as coisas com a sensação de “estou esquecendo alguma coisa”. Meu deus! Como eu tenho ódio dessa sensação! E o pior é que sempre desistimos de descobrir ou concluímos que está tudo ok, mas essa certeza só dura até chegarmos no local e percebermos o que esquecemos.

Dessa vez não foi diferente, faltando pouco tempo para o jogo percebi que havia esquecido nada mais nada menos que o capacete!!! Eu estava determinado a ir ao jogo e me vi forçado a pegar um trem na Central do Brasil na hora do rush. Até aí a situação já é péssima, mas como tudo na vida pode piorar. 

O jogo era às 19:30, cheguei ao térreo do prédio na Av. Rio Branco às 19:06 pronto para aventura de chegar no Engenho de Dentro em 24 minutos. Peguei o metrô correndo, desci na central e fui feito um foguete até o trem que partiria em 2mim sem escalas até o Engenhão. Entrei no vagão semi-lotado sem nenhum outro tricolor, mas com dois flamenguistas, e perguntei para a senhora ao meu lado:

- Esse trem para no Engenho de Dentro?
- Sim, é a primeira estação.

Eba! Dentro da medida do possível me dei bem. Foi o que eu pensei, mas, como eu disse acima, não há nada que não possa piorar. O trem partiu e em menos de trinta segundos um homem vira e fala em voz firme e alta:

- Irmão Tiago?
- Mais uma vez com a graça de cristo nosso senhor!
- Irmão José?
- Mais uma vez com a graça de cristo nosso senhor!
(e assim, sucessivamente, a chamada continuou)

Puta que pariu entrei no vagão crente!!

Sem escalas para que eu pudesse trocar de vagão me vi obrigado a participar do primeiro culto da minha vida! Deveriam lançar essa promoção: perca seu estádio favorito para obras que o deixarão cheio de cadeiras dificultado a você, como bom brasileiro, assistir ao jogo em pé, mas ganhe um estádio sem acústica na puta que pariu e com direito a viagem em um trem quente com muito louvor a Jesus Cristo.

Em seguida o nosso narrador chamou o irmão Jonas e passou a palavra a ele. O irmão Jonas com a bíblia encostada contra a sua cara começou a pregação aos berros contando alguma história bíblica que eu não me lembro. Ele era acompanhado pelos demais passageiros que repediam frases do tipo “jesus é amor”. Mas como eu digo pela terceira vez, não há nada que não possa piorar. Era chegada a hora da cantoria, em voz altíssima todos cantavam as músicas em quanto eu assistia a tudo atônito, seria impossível ouvir ipod mesmo se eu tivesse coragem de fazê-lo em um trem na hora do rush (na verdade eu tenho coragem, mas confesso que prefiri assistir à essa magnífica experiência sociológica e teológica no transporte público do Rio de Janeiro).

Enfim, se me pedissem para cantar eu começaria “ pará pará pará pá pá pá pá pá, para para para pa pa pa pa pa crack bum, para par para pa pa pa pa pa, morro do dendê é ruim de invadi, nois cuns alemão vamu nus diverti (...) fé em deus, dj!”. Essa é a única música com homenagem a deus que eu sei a letra.

Resumo da opereta, cheguei são e salvo ao Engenhão apenas 30 minutos depois de sair do escritório, perdi somente seis minutos do 3X1 e ganhei a salvação espiritual.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Macumba Braba, Piranhas e Aquecimento Global.

Dr. Onofre.



Segunda-feira, fui à Casa do Saber assistir à palestra “Economics of Adaptation to Climate Change” com o simpático economista do Banco Mundial, Sergio Margulis. Cheguei cedo e resolvi ler um pouco no café.

Pouco depois de sentar numa mesinha, percebi a presença de duas senhoritas que não faziam parte da fauna habitual daquele lugar. Ambas eram jovens, bonitas, louras e, ao que gritavam seus sensos estéticos, biscas suburbanas.

Estava ainda admirando essas moças, quando uma terceira mulher, essa sim típica habituée da casa, pediu para sentar na cadeira vazia de minha mesa. Deixei. Voltei a meu livro, até que seu celular esporrento tirou toda minha concentração. O diálogo que ouvi é, talvez, o mais bizarro já presenciado:

- Alô?!
- .....
- Oi Dona XXX, tinha mesmo ligado para a senhora mais cedo, tava com umas dúvidas.
- ....
- É o seguinte: o coração de galinha eu enterrei no jardim, mas a língua de boi é muito grande...

Pego totalmente de surpresa pela frase que acabara de ouvir, não tive outra reação além de engasgar com café e encarar, rapidamente, o rosto da figura. Mesmo com todos os sinais de que eu estava escutando a conversa, a mulher não se abalou e continuou pendurada em seu blackberry até o fim de sua consultoria de umbanda:

- Ah tá... então posso enterrar numa praça... Muito obrigada. Um beijo.

Assustado resolvi sair dali. Sem conseguir esquecer a conversa que presenciara, ouvi durante uma hora e meia um economista falar sobre o custo do apocalipse climático. Enquanto esperava um táxi na saída, minha atenção voltou-se novamente para as duas tchutchucas do começo da coluna, que agora conversavam na calçada:

- Poxa, a Valéria falou que aqui era bom de ajeitar[sic] marido, mas só tem mulher desocupada.
- Também, palestra sobre natureza...
- Não entendi nada do que o homem falou, e ninguém veio falar com a gente, perdi meu tempo.

Por um segundo pensei em abordá-las, tentar tirar a má impressão; mas, desisti da ideia. Não cheguei aos trinta anos, nem tenho um emprego, só ia deixá-las ainda mais arrependidas. 


sábado, 22 de janeiro de 2011

De como eu sou insensível.

Dr. Onofre.

Uma noite dessas do Rio, em que às duas da manhã ainda faz 31º, e não há a menor chance de ficar trancado em casa sem ar-condicionado, resolvi esticar a conversa num bar do Leblon. A ideia não era de todos brilhante, já que nenhum deles é capaz de oferecer mesa ou ar-condicionado descente, mas com um pouco de gim e de boa-vontade tudo se acertou. 

Apesar dos pesares a noite ia bem, até que a conversa chegou no assunto onipresente há dez dias: "Enchentes da Serra". Ok, antes de repetir o erro  que cometi no bar, devo deixar claro que me solidarizei com as perdas, doei leite em pó, vela, roupa velha, absorvente, roupa de cama, tempo e tudo mais que pude, mas simplesmente não aguento mais ouvir sobre isso.

Tentei convencer, sem sucesso, um grupo de pessoas de que o desastre não é a única coisa importante que se passa nessa semana, e que é um verdadeiro absurdo dedicar 100% do noticiário a isso. Parece que a vida se resume à enchente, e que ninguém mais dá bola para a inflação galopante, a reunião do COPOM, o jogo do Flamengo, ou o encontro do Obama com aquele chinezinho lá. 

Todos foram irredutíveis, ninguém conseguiu entender que qualquer dos assuntos acima tem muito mais chance de mudar nossas vidinhas do que o resgate da mulher gorda que perde o cachorro, do que a história do pai que alimentou o filho bebê como um pássaro, ou do que o vídeo do prefeito chorando. Não que o desastre não seja uma notícia importantíssima, ou que eu ignore o sofrimento, mas  noticiar a vida de cada um dos desabrigados extrapola muito a função de informar da TV.

Mesmo com toda minha retórica, não consegui escapar da elegância peculiar a jovens bêbados, fui trucidado vivo e servido à francesa. Já me dava totalmente por vencido quando chegou a conta, e um dos amigos entendeu, finalmente, meus argumentos ao deparar-se com o preço da picanha na chapa.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Identificação - Boris Y.

É incrível a quantidade de merda que eu tenho que ouvir todos os dias!

Estava eu na academia fazendo o pior de todos os exercícios, ou seja, abdominal, e ao mesmo tempo praticando um dos meus esportes favoritos, ouvir a conversa dos outros, quando me deparei com um diálogo lamentável.

No aparelho ao lado um homem malhado de uns trinta e poucos anos faz seus exercícios quando um bombado um pouco mais novo chega com a sua personal trainer bonita e aparentemente descolada.

A personal vira e diz:
- Ainda estou me recuperando da festa de sexta.

O mais velho pergunta:
- Você bebeu muito?
- Não, sou fraca, tomei duas taças de champagne. Eu tomo só uma geralmente, se tomo três já fico completamente louca.

Nesse momento eu pensei, que merda pra ela, mas enfim é mulher e tal... vou perdoar.

E a conversa continua com o mais novo:
- eu tb não sou muito de beber, não bebo em casa e bebo pouco quando saio.
- eu tb nao sou de beber.
- eu tb não, nem quando saio muito menos em casa.

Pausa. Eu também ainda não bebo em casa, e deve-se frisar o "ainda", acho que não tenho idade para isso, mas com mais uns aninhos...

Continua com o mais velho parindo a seguinte pérola:
- E esse negócio de barzinho heim, que programa de índio!
- É.
- É.

E o outro pondera:
- Tem muita gente que gosta.
- Não entendo isso...
- Coisa besta de carioca, mania de barzinho, fica lá sentado bebendo, bebendo... coisa mais sem graça!

MEU DEUS!!! Todos concordaram! PROGRAMA DE ÍNDIO??? Coisa besta de carioca? Sem graça? Naquele momento minha vontade era levantar irado, virar para ele e falar com o dedo levantado: “Programa de índio é o senhor! Velho, escroto e abstêmio! Um programa de índio ambulante, você leva o espírito da FUNAI para onde for!”. Além disso, um programa no qual você fica sentado, bebendo e falando mal dos outros nunca é sem graça, mentiroso, caluniador! Caluniador e mentiroso!

Duas coisas que eu não quero ser na minha vida: velho e abstêmio. A primeira delas infelizmente eu não posso evitar, mas a segunda envidarei meus melhores esforços para nunca sucumbir. Só tenho duas certezas na vida, a morte e que não pararei de beber e fumar.

Vários cenários compõem a paisagem desta cidade, um deles é o barzinho. Vários lugares compõem a vida social das pessoas dessa cidade, e um deles é o barzinho. Os italianos têm suas cantinas, os britânicos seus pub’s, os parisienses seus cafés, nós cariocas temos o barzinho e eu me orgulho muito disso!

Prefira você um pé sujou ou um pé limpo, para uma pessoa ser de fato carioca, seja ela abençoada por ter nascido aqui ou ter tido o bom senso de vir para cá, ela tem que se identificar com alguns aspectos da cidade, por isso, que me desculpem os abstêmios, mas o barzinho é fundamental.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Brasileiros Despatriados

por Z. Leid Silva (correspondente internacional)



Durante esse início da minha jornada no  exterior comecei a perceber o quanto os brasileiros nos estados unidos se sentem meio-perdidos. Mal se pode falar 3 palavras em português em um local público que logo vem a pergunta: "Vocês são brasileiros?"
NÃO! Eu gosto de falar português na rua para conhecer brasileiros aleatórios!!!
Atualmente não é incomum brasileiros viajando o mundo, então porque a surpresa? Você não vê dois grupos de japoneses fazendo festa porque se encontraram na rua.
É como se eles (e mesmo sendo brasileiro, eu não me sinto incluído nesse grupo) fossem os farofeiros do mundo. Talvez essas pessoas se sintam peixes fora d'água, mas na verdade o fato de estarem em grupo só os transforma em um cardume fora d'água.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

R10 ou Árvore- da-Lagoa-Fora-de-Época.

Dr. Onofre.

Acabo de passar por um momento curioso. Acho que posso definir como “Árvore-da-Lagoa-Fora-de-Época”, uma verdadeira micareta flamenguista. O trajeto entre Humaitá e Leblon feito, em geral, em menos de 15 minutos tornou-se uma verdadeira via crucis por causa de ninguém menos que Ronaldinho Gaúcho.

Aviso ao leitor crítico que esta coluna é mais um desabafo do que qualquer outra coisa. Isso dito...

Patrícia Amorim, você é uma quase total desgraça. Sua gestão pode ser definida adequada e elegantemente como "uma bosta". Quase fomos rebaixados; o time se desfez; nosso goleiro matador mostrou-se, de fato, matador; nosso ex-técnico, que nos custou uma fortuna, não rendeu nada (esse ano). Os esportes olímpicos e o caixa do clube também não estão bem, ao que me consta. A Batavo (Brasil Foods) não deve renovar seu patrocínio. Até o Ronaldinho, que era um motivo de felicidade, perde seu encanto - ao menos até o começo do campeonato -  trazendo a lembrança da maldita Árvore da Lagoa.

Depois de um mês de sinos eletrônicos badalando até meia-noite, engarrafamentos homéricos e nens impedindo minhas corridas, me vi, finalmente, livre da Árvore da Lagoa. Apesar disso, Patrícia Amorim apronta pro meu lado. Logo quando estava desprevenido, indo sair com uma menina, pego Ronaldinho Gaúcho na contra-mão dos meus planos.

De acordo com os jornais, os 20 mil torcedores quebraram o portão de acesso ao campo do Flamengo, atrasaram meu encontro e soltaram morteiros por quinze minutos. Lendo a manchete do oglobo.com e não sabendo que era dia 12, plena luz do dia, no meio do meu encontro poderia achar que tratava-se do Réveillon no Piscinão de Ramos.

Antes que Fluminenses sensíveis, botafoguenses frustrados e vascaínos padeiross venham tirar sarro do meu time, deixo claro que é o maior do Brasil com a melhor contratação do ano, apesar de fazer uma farofadas de vez em quando.

domingo, 9 de janeiro de 2011

Ganância

Dr. Onofre

Eis que me descobri otário. Eu, razoavelmente inteligente e estudado, fui passado pra trás por um camelô gordo que fala “as gentes” e “os podruto”.


Explico melhor a história: meu pai, um homem pouco ligado à informática, mas amante de lançamento tecnológicos, está sofrendo o luto de perder suas fotos e suas músicas. O HD de seu Mac novo – que só falta voar – queimou, levando consigo todas as lembranças de aniversários e viagens dos últimos 18 meses.


É esse evento lastimável que me liga ao igualmente lastimável camelô do início da conversa. A solução encontrada para remediar as incertezas da armazenagem de dados no mundo contemporâneo (ficou bonito!) seria um HD externo. Numa andança pelo Centro da cidade, resolvi comprar o gadget num shopping de informática. Antes mesmo de entrar nas lojas, vi uma série de ambulantes com “podrutos” tentadores.


Não entendo de informática, mas achei que 64 GB seriam espaço suficiente para as brincadeirinhas do meu velho. Comprei não uma memória externa, mas um pen drive bombado. Achei que ele não perceberia a diferença e ainda ficaria contente com minha iniciativa cristã. Comprei, não sem antes regatear o preço ao máximo possível. Paguei barato, mas um preço ainda crível para a mercadoria. Saí, melhor dizendo, andei dali com a impressão de um bom negócio. Talvez um pen drive contrabandeado, pensei. Debati no metrô com um amigo o peso dos impostos sobre o preço final do produto no Brasil, como o Estado atrofia nossa economia, como é bom fazer compras nos Estados Unidos ou na rua.


Cheguei em casa. Mantive o presente na embalagem e dei pro meu pai. Que surpresa ele não teve quando o plugou em seu computador e viu tratar-se de uma luz vermelha travestida de aparelho de informática. Com que cara eu não fiquei quando percebi que paguei por um pen drive e levei um pisca-pisca chinês, se ainda fosse antes do dia de reis poderia ter alguma utilidade.


O pior foi ouvir da minha mãe: “você não viu no jornal? Esse é o novo golpe da praça.”. Naquele momento, eu que acreditara ter passado a perna no Leão ao mesmo tempo em que usava toda minha excepcional habilidade de negociação, me vi otário, enganado por um semi-analfabeto, obeso e subempregado. Tentando, sem sucesso, me animar, minha mãe diz: “veja o lado positivo: redistribuição de riqueza”.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Luxúria Minimalista

por Z. Leid Silva, (correspondente internacional)


   Viajando pela American Airlines, de Nova Iorque para Los Angeles, resolvi tomar um drinkzinho para relaxar e ajudar a passar o tempo. Enquanto contemplava a bebida (um Gin em miniatura do freeshop e gelo) comecei a reparar nas pessoas a minha volta. 
   Tipos diferentes mas com uma "peculiaridade em comum", estávamos todos viajando as 6 horas da manhã de natal (eu culpo o fuso horario do Brasil pela precocidade do meu drink, já que este vôo era conexão). Casal nipônico bem vestido no inicio dos seus 40 anos, brasileiro que apesar do vôo americano, insistia em falar em inglês com a tripulação, um famoso rapper que tomava Champagne na classe executiva, a americana saudável que comia vegetais num saquinho ziplock ao meu lado, além da jovem mãe que não conseguia conter seu filho que gritava loucamente graças a um jogo de vídeo-game.
   Após um certo tempo de observação e graças ao Gin, veio a obvia necessidade de ir ao toalete. O banheiro mais próximo estava ocupado e decidi aguardar em pé, já que o Gin estava agindo a todo vapor. Já estava quase perdendo a paciência e a classe e quase pedi um copinho para aeromoça, quando ouço o barulho da tranca se abrindo. Eis que para minha surpresa sai a jovem senhora nipônica (e eu que pensei que os japoneses eram mais rigorosos com alimentação e não teriam esse tipo de problema intestinal).
E eu estava certo, porque (agora) para minha perplexidade sai o senhor nipônico da mesma cabine ajeitando o cachecol.
   Ao entrar no banheiro percebi que estava com a mesma sensação de entrar em um motel barato. O inútil questionamento: "Será que esta maçaneta esta limpa?"
Até porque devido as proporções do local todos os cantos tem potencial. 
   E aí eu fiquei pensando que apesar do mito, transar em um banheiro publico de 1 metro por 1 metro à quilômetros do chão não me parece muito atrativo. Banheiro de boate, não é limpo, mas tudo bem. Carro, é apertado, mas beleza. Agora, transar em um carro que é latrina de 200 pessoas... Nem tanto.
   Ao desembarcar tive a certeza de que a América, graças a globalização, não é mais tão puritana.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Juventude TrasVIADA - Boris Y.

Sim, eu sou gay como ficará claro nos parágrafos abaixo, embora esse post trate desta temática prefiro esclarecer desde o início que nem sempre essa coluna tratará desse tema.

Eu cresci ouvindo os ensinamentos do Falcão que dizia “homem é homem, menino é menino,macaco é macaco e viado é viado (...) homem é homem, menino é menino, político é político e baitola é baitola”, belos versos quase tão pouco homofóbicos quanto Vale Tudo do Tim Maia.

Mas os tempos mudaram e hoje não só o falcão não faz mais sucesso com seu belíssimo terno amarelo e girassol no bolso, como também pode-se dizer que menino não é mais menino (embora macaco continue macaco e político certamente continue político, o PMDB e Sarney não me deixam mentir).

João Ximenes Braga já escreveu em sua coluna no O Globo algo que eu pensei que só acontecia comigo “não há gaydar que funcione além de Madureira”, todos os playboys suburbanos acham que são estilosos, mas parecem viados. Sempre usam camisa colada com gola grande e calça jeans apertadas, óculos chamativos e todo o tipo de adereços brilhantes como brincos enormes, pulseiras, capas horríveis de celular e por aí vai... isso sem contar os cortes de cabelo e os penteados, por vezes a base de gel. Desorientam qualquer gaydar! “Precisam de um companheiro”!

Voltando ao tema de hoje, outro dia estava eu na sempre acolhedora de fanchas, gays e héteros Dama de Ferro, quando me vi cercado por crianças entre 16 e 19 anos, isso mesmo 16!! E descobri outra interferência grave prejudica o funcionamento do gaydar, a excessiva viadagem dos jovens playboys héteros da zona sul.

Analisando os garotos que lá estavam reforcei uma conclusão que eu já vinha formando há algum tempo, não há gaydar que funcione com menores de 20 anos!!! Os meninos de hoje continuam se vestindo de forma simples, mas nem por isso não-gay. O que mais me chama a atenção é que o vestuário é composto somente de: (a) camisa branca apertada “gola V”; (b) camisa preta apertada “gola V”; (c) calça jeans levemente justa clara; e (d) calça jeans evemente justa escura. Da onde eu venho se um cara passava vestindo uma combinação dessas de quatro peças todos diriam “hummmm boiola”, para mim camisa gola “V” apertada sempre será coisa de viado.

Como naquela noite a bebida liberou um pouco o pedófilo dentro de mim e tinha um menino olhando nos meus olhos, e eu nos dele, decidi chegar. Ciente de que todos parecem gays, e que meu gaydar em tal situação poderia falhar, resolvi falar com a garota ao lado dele.
Perguntei:
- seu amigo é gay?
Ela respondeu:
- ele é meu namorado.
Não digo mais nada...

Será que não ensinam que em uma boate se você fica olhando no olho de outro cara você quer dar? Seja porrada ou o cú... não se para e simplesmente fica olhando no fundo dos olhos de outro homem ao acaso, que retardado! E se você olha no olho de um garoto dessa idade ele continua olhando... incrível! Dão mole sem perceber!

Outro ponto são as unhas. Em um esforço investigativo para descobrir porque as unhas desses meninos brilham tanto interroguei as copeiras do escritório e descobri que trata-se de “base”, sim, os garotos agora usam uma coisa que eu sempre chamei de esmalte transparente, mas que chama-se “base”, é o cúmulo da viadisse.

O engraçado é que essa inversão nas meninas só acontece por um crescente interesse por futebol (não conto trabalhar, pois isso é anterior a minha geração), porque fora isso elas não passaram a ter atitudes ditas masculinas, não pararam de se depilar, não fazem concurso de arroto, não raspam a cabeça... Pelo contrário, cada vez se maquiam mais, alisam mais os cabelos e colocam uma quantidade de silicone capaz de salvar qualquer um de um naufrágio, aliás, em breve os pais ao invés de colocarem asinhas nas filhinhas vão colocar logo um silicone.

A homofobia, assim como a pochete, precisava sair de moda, mas os meninos não precisavam incorporar tanto o espírito. Se na minha época as drogas, o hip-hop e funk baixo nível transviavam a juventude carioca, hoje Restart, Fresno, Hori e etc criaram uma juventude transVIADA. Os meninos héteros são cada dia mais “a louka, Lady Gaga”!

sábado, 1 de janeiro de 2011

Feliz Ano Novo!

Dr. Onofre.



Réveillon é um momento especial. Todo mundo se junta para desejar coisas novas e positivas. Católicos preparam suas macumbas, grunges usam branco, eu arrumo minha escrivaninha. Tudo muito fora do comum.

*     *     *

Há uns cinco anos não passava a virada em Copa. Achava tudo muito complicado. Mesmo tendo festas na Atlântica para ficar, sempre gostei de passar a virada na areia, o que significa: champagne morno e sem taça, multidão e shows ruins. Além de tudo há a volta para casa, que sempre rende momentos de perrengue únicos.

Entre as experiências típicas estão voltar à pé de porre, enfrentar ônibus lotados e só conseguir saltar pontos depois do meu, e tentar conseguir um táxi disposto a cobrar no taxímetro – verdadeira tarefa hercúlea.

Pagar uma fortuna não é o pior que pode-lhe acontecer. Certa vez, pasmem, fui agraciado com a especialíssima presença da família do taxista. Isso mesmo, num Santana velho estavam eu, o motorista, sua digníssima patroa e duas filhas. Até ai ainda dava, o problema começou quando decidiram cantar pagode junto do rádio e a comer farofa, camarões e rabanadas, que iam sendo passados e oferecidos – “Tá sirvido, nem?!”.

Minha volta favorita começou mal. Chovia. Estávamos no Posto 6. Nenhum táxi a vista. Ônibus lotados. Distância enorme para voltar a pé. Todos de porre. A única opção parecia ser a Combi fazendo lotada. Entramos. Sentamos. Eis que, como uma graça de Iemanjá, vem a luz:

-            Motorista, quanto é?
-            Um e quarenta.
-            Quantas pessoas faltam para a gente sair?
-            Umas sete, oito.
-            Beleza, toma vinte e vamos pro Humaitá... Ah... dá pra colocar na Jovem Pan?!

Nunca foi tão fácil chegar em casa.  

*     *     *

Em anos anteriores fui a festas gigantes – hotéis, clubes, casas de amigos – ou estava fora do país. Achava mais divertido ouvir DJs duvidosos, comer massas meia-boca e pagar rios de dinheiro a passar na farofa de Copa. Não sei porquê. Os fogos são lindos, o clima é tranqüilo e a macumba civilizatória. Tinha-me esquecido das coisas engraçadas e de como é bom botar os pés na água.

*     *     *

Da noite de ontem cheguei as seguintes conclusões sobre simpatias: quanto mais ricos, mais usam amarelo e dourado; e só barangas usam vermelho.

Feliz ano novo!

Introdução ao DesBunde.

Por: Mathias Cerberus
Editor Chefe


Desbunde (des-bun-de):
desbunde sm (der regressiva de desbundar) gír 1. Ato ou efeito de desbundar. 2. Loucura, desvario.

A arte do Desbunde:
A arte de escrever sobre as loucuras do Rio de Janeiro
A arte de viver as loucuras do Rio de Janeiro
Desbunde dos Políticos
Carioquicidade
Bebida
Sexo
Drogas
Rock n’ Roll
POP
Eletrônico
Hip-Hop
EuroDance

Um olhar afiado e crítico ao cotidiano da cidade.

Contando com colunistas de renome, com biografias maiores que a do Justin Biber, unidos pela metrópole desde os desbundes do colégio. 

Dr. Onofre
Jovem. Advogado. Carioca. Membro honorário dos conselhos da WWF e do AA. O Joseph Climber Etílico.

Boris Y.
O Highlander da faculdade de direito. Um desbundado de Sábado à Sábado. Embora tricolor, vive o carma botafoguense: “Tem coisas que só acontecem com Boris Y.”

Z. Leid Silva
Correspondente Internacional, cobrindo o território de Nova Iorque à São Gonçalo. Um pajé moderno dos mais graves desbundes alheios. Estetoscópio em uma mão e goró na outra.