quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Macumba Braba, Piranhas e Aquecimento Global.

Dr. Onofre.



Segunda-feira, fui à Casa do Saber assistir à palestra “Economics of Adaptation to Climate Change” com o simpático economista do Banco Mundial, Sergio Margulis. Cheguei cedo e resolvi ler um pouco no café.

Pouco depois de sentar numa mesinha, percebi a presença de duas senhoritas que não faziam parte da fauna habitual daquele lugar. Ambas eram jovens, bonitas, louras e, ao que gritavam seus sensos estéticos, biscas suburbanas.

Estava ainda admirando essas moças, quando uma terceira mulher, essa sim típica habituée da casa, pediu para sentar na cadeira vazia de minha mesa. Deixei. Voltei a meu livro, até que seu celular esporrento tirou toda minha concentração. O diálogo que ouvi é, talvez, o mais bizarro já presenciado:

- Alô?!
- .....
- Oi Dona XXX, tinha mesmo ligado para a senhora mais cedo, tava com umas dúvidas.
- ....
- É o seguinte: o coração de galinha eu enterrei no jardim, mas a língua de boi é muito grande...

Pego totalmente de surpresa pela frase que acabara de ouvir, não tive outra reação além de engasgar com café e encarar, rapidamente, o rosto da figura. Mesmo com todos os sinais de que eu estava escutando a conversa, a mulher não se abalou e continuou pendurada em seu blackberry até o fim de sua consultoria de umbanda:

- Ah tá... então posso enterrar numa praça... Muito obrigada. Um beijo.

Assustado resolvi sair dali. Sem conseguir esquecer a conversa que presenciara, ouvi durante uma hora e meia um economista falar sobre o custo do apocalipse climático. Enquanto esperava um táxi na saída, minha atenção voltou-se novamente para as duas tchutchucas do começo da coluna, que agora conversavam na calçada:

- Poxa, a Valéria falou que aqui era bom de ajeitar[sic] marido, mas só tem mulher desocupada.
- Também, palestra sobre natureza...
- Não entendi nada do que o homem falou, e ninguém veio falar com a gente, perdi meu tempo.

Por um segundo pensei em abordá-las, tentar tirar a má impressão; mas, desisti da ideia. Não cheguei aos trinta anos, nem tenho um emprego, só ia deixá-las ainda mais arrependidas. 


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