sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Glória a deus! - Boris Y.

Ontem foi o dia mais quente do ano no Rio de Janeiro, muitos devem ter corrido direto do trabalho para casa e ligado o ar-condicionado, era o que eu deveria ter feito, mas não, fazer o óbvio, o lógico e o mais agradável parece ser uma tarefa muito difícil para mim.

Minha história começa na manhã de ontem. Decidi que iria direto do trabalho para o jogo do Fluminense no Engenhão, o plano era ir do centro de moto com o meu irmão. Separei camisa, tênis, meia e bermuda na mochila e fiquei uns 15 minutos olhando para as coisas com a sensação de “estou esquecendo alguma coisa”. Meu deus! Como eu tenho ódio dessa sensação! E o pior é que sempre desistimos de descobrir ou concluímos que está tudo ok, mas essa certeza só dura até chegarmos no local e percebermos o que esquecemos.

Dessa vez não foi diferente, faltando pouco tempo para o jogo percebi que havia esquecido nada mais nada menos que o capacete!!! Eu estava determinado a ir ao jogo e me vi forçado a pegar um trem na Central do Brasil na hora do rush. Até aí a situação já é péssima, mas como tudo na vida pode piorar. 

O jogo era às 19:30, cheguei ao térreo do prédio na Av. Rio Branco às 19:06 pronto para aventura de chegar no Engenho de Dentro em 24 minutos. Peguei o metrô correndo, desci na central e fui feito um foguete até o trem que partiria em 2mim sem escalas até o Engenhão. Entrei no vagão semi-lotado sem nenhum outro tricolor, mas com dois flamenguistas, e perguntei para a senhora ao meu lado:

- Esse trem para no Engenho de Dentro?
- Sim, é a primeira estação.

Eba! Dentro da medida do possível me dei bem. Foi o que eu pensei, mas, como eu disse acima, não há nada que não possa piorar. O trem partiu e em menos de trinta segundos um homem vira e fala em voz firme e alta:

- Irmão Tiago?
- Mais uma vez com a graça de cristo nosso senhor!
- Irmão José?
- Mais uma vez com a graça de cristo nosso senhor!
(e assim, sucessivamente, a chamada continuou)

Puta que pariu entrei no vagão crente!!

Sem escalas para que eu pudesse trocar de vagão me vi obrigado a participar do primeiro culto da minha vida! Deveriam lançar essa promoção: perca seu estádio favorito para obras que o deixarão cheio de cadeiras dificultado a você, como bom brasileiro, assistir ao jogo em pé, mas ganhe um estádio sem acústica na puta que pariu e com direito a viagem em um trem quente com muito louvor a Jesus Cristo.

Em seguida o nosso narrador chamou o irmão Jonas e passou a palavra a ele. O irmão Jonas com a bíblia encostada contra a sua cara começou a pregação aos berros contando alguma história bíblica que eu não me lembro. Ele era acompanhado pelos demais passageiros que repediam frases do tipo “jesus é amor”. Mas como eu digo pela terceira vez, não há nada que não possa piorar. Era chegada a hora da cantoria, em voz altíssima todos cantavam as músicas em quanto eu assistia a tudo atônito, seria impossível ouvir ipod mesmo se eu tivesse coragem de fazê-lo em um trem na hora do rush (na verdade eu tenho coragem, mas confesso que prefiri assistir à essa magnífica experiência sociológica e teológica no transporte público do Rio de Janeiro).

Enfim, se me pedissem para cantar eu começaria “ pará pará pará pá pá pá pá pá, para para para pa pa pa pa pa crack bum, para par para pa pa pa pa pa, morro do dendê é ruim de invadi, nois cuns alemão vamu nus diverti (...) fé em deus, dj!”. Essa é a única música com homenagem a deus que eu sei a letra.

Resumo da opereta, cheguei são e salvo ao Engenhão apenas 30 minutos depois de sair do escritório, perdi somente seis minutos do 3X1 e ganhei a salvação espiritual.

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