domingo, 9 de janeiro de 2011

Ganância

Dr. Onofre

Eis que me descobri otário. Eu, razoavelmente inteligente e estudado, fui passado pra trás por um camelô gordo que fala “as gentes” e “os podruto”.


Explico melhor a história: meu pai, um homem pouco ligado à informática, mas amante de lançamento tecnológicos, está sofrendo o luto de perder suas fotos e suas músicas. O HD de seu Mac novo – que só falta voar – queimou, levando consigo todas as lembranças de aniversários e viagens dos últimos 18 meses.


É esse evento lastimável que me liga ao igualmente lastimável camelô do início da conversa. A solução encontrada para remediar as incertezas da armazenagem de dados no mundo contemporâneo (ficou bonito!) seria um HD externo. Numa andança pelo Centro da cidade, resolvi comprar o gadget num shopping de informática. Antes mesmo de entrar nas lojas, vi uma série de ambulantes com “podrutos” tentadores.


Não entendo de informática, mas achei que 64 GB seriam espaço suficiente para as brincadeirinhas do meu velho. Comprei não uma memória externa, mas um pen drive bombado. Achei que ele não perceberia a diferença e ainda ficaria contente com minha iniciativa cristã. Comprei, não sem antes regatear o preço ao máximo possível. Paguei barato, mas um preço ainda crível para a mercadoria. Saí, melhor dizendo, andei dali com a impressão de um bom negócio. Talvez um pen drive contrabandeado, pensei. Debati no metrô com um amigo o peso dos impostos sobre o preço final do produto no Brasil, como o Estado atrofia nossa economia, como é bom fazer compras nos Estados Unidos ou na rua.


Cheguei em casa. Mantive o presente na embalagem e dei pro meu pai. Que surpresa ele não teve quando o plugou em seu computador e viu tratar-se de uma luz vermelha travestida de aparelho de informática. Com que cara eu não fiquei quando percebi que paguei por um pen drive e levei um pisca-pisca chinês, se ainda fosse antes do dia de reis poderia ter alguma utilidade.


O pior foi ouvir da minha mãe: “você não viu no jornal? Esse é o novo golpe da praça.”. Naquele momento, eu que acreditara ter passado a perna no Leão ao mesmo tempo em que usava toda minha excepcional habilidade de negociação, me vi otário, enganado por um semi-analfabeto, obeso e subempregado. Tentando, sem sucesso, me animar, minha mãe diz: “veja o lado positivo: redistribuição de riqueza”.

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