sábado, 26 de fevereiro de 2011

Recalque

Por Boris Y.

No meio do ano passado a revista Veja fez uma reportagem de capa intitulada "Ser Jovem e Gay", falando resumidamente que a nova geração de gays se assume mais cedo, ainda no colégio, e passa por menos dificuldades pois encontra um ambiente escolar tolerante aonde é mais socialmente inaceitável rejeitar o gay do que a homossexualidade. Acho que as coisas melhoraram sim, embora a Veja tenha exagerado no nível de tolerância que há.

Pois bem, eu não fui da supracitada geração e, portanto, vivi minha adolescência escolar me reprimindo e isso gerou algo que algo que coloquialmente chamamos de recalque (não conheço o conceito psicanalítico). Todos nós somos somos recalcados com algo, o que não é bom. Sabendo disso estou tratando de atacar o meu recalque para com a sexualidade.

O primeiro passo foi passar o rodo na night carioca com total falta de critério, reiteradas vezes, graças a doses generosas de C2H6O, nosso ilustre amigo Álcool Etílico. O segundo e mais engenhoso passo foi pegar um ex-colega de sala do colégio em pleno baixo gávea. Mas antes eu tive que falar para um amigo judeu ortodoxo que eu sou gay, para só então deixar isso claro na nossa mesa no Garota da Gávea e partir para o ataque saindo às escondidas pela Gávea, já que coincidentemente meu ex-colega é uma pessoa pública e nem eu nem ele gostamos de sermos linchados.

Por fim, chegou a hora do terceiro passo ontem à noite, bufem os tambores...
Eu fui com as minhas amigas da faculdade ao show dos BACK STREET BOYS!!! HAHAHAHAHAHAHAHAHAHHAHAHAHAH

Ri mais do que seu eu tivesse ido ao Stand Up Comedy do Serginho Malamdro que tinha no meio do caminho. Tudo bem que os BSB não usam mais aquelas roupas coloridas e esvoaçantes dos anos 90, mas a tosquisse continua em nível igual. Uma coisa boa é que lá você podia fazer o que quiser, afinal de contas ninguém que também estava lá teria moral para te julgar.

Quando contei isso para os meus amigos as reações foram:
- Você está doente?
- Você estava passando por problemas ou dificuldades?
- Você estava com febre quando com comprou o ingresso?

Sim, de certa forma eu estava doente, como disse no início eu era recalcado. Não foi fácil superar o recalque:
  • Fui até o Citibank Hall (eterno Metropolitan) com a minha carteira de motorista vencida há dois meses, ou seja, podendo ter o carro rebocado em qualquer Lei Seca.
  • Uma amiga não queria mais entrar no show porque a saia dela abriu totalmente, mas argumentei que "só teriam mulheres e viados no show".
  • Aquele lugar parecia uma convenção mundial de filas, a Disney não é nada quando comparada a um show dos BSB, tinha fila por todo o estacionamento e até para fora da área do shopping.
  • Tinham pessoas que tinham chegado na fila um dia antes e estavam extremamente estressadas gritando coisas como "vai descer a baixada nessa porra" (com essas exatas palavras) e brigando em barracos monumentais. Foi a segunda maior experiência sociológica do ano, só perdendo para o vagão crente do trem (http://odesbunde.blogspot.com/2011/01/gloria-deus-boris-y.html) e a ida ao Rio Water Planet em dezembro passado, que ganhará em breve uma coluna especial.
Enfim, o show foi ótimo, sou menos recalcado agora e eles cantaram todas as músicas antigas exceto "Get Down". Essa música nunca foi minha favoria e nem o clipe o melhor, mas certamente foi o clipe mais genial deles, afinal se passava dentro de um globo de boate!!! Hahaha! E o melhor, era um globo de boate feito digitalmente pelos computadores dos anos 90!!!! Além disso, essa foi uma música do primeiro CD deles, quando ainda não eram ninguém e contou com a participação do hilário Fun Factory, o que deve ter sido uma grande parceria difícil do empresário deles conseguir na época. Para quem não se lembra o Fun Factory era um famoso grupo pop de Eurodance com hits como "Celebration", "Close to You" e "Doh Wah Diddy" (que no brasil, lá pra 96, serviu de base para o clássico do funk "Melô da Mulher Feia")

No final só ficou a impressão de um erro brutal de marketing, eles envelheceram, mas esqueceram de crescer. Enquanto os artistas que conseguem se manter no topo durante anos após serem impulsionados para fama por jovens, o fazem crescendo juntos com a sua geração de fãs, fazendo músicas mais maduras, bem trabalhadas e com temas menos bobos e românticos eles não... melhoraram muito pouco a base das novas músicas e as letras continuam muito melosas e conservadoras. Além disso, nunca buscaram valiosas parcerias com artistas que fazem sucesso no momento como o sempre igual e intediante David Getta, o imbecil do Eminem, o irritante Timbaland (como fez o Justim Timberlake), Rihanna ou Lady Gaga.

Seguem os links:

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Meu Amigo Global e Outras Informações Altamente (In)úteis

Dr. Onofre.


Há algumas semanas recebi uma notícia chata. Alguém de quem acompanho a vida ia se mudar pra longe. Não é uma relação ordinária. Explico melhor: é quase como se eu, Z. Leide ou Boris parassemos de escrever e vocês, caros e poucos leitores, ficassem sem saber por onde andomos ou que maldições andam a acontecer conosco.

Com esse amigo é mais ou menos assim. Tirando o fato d’eu acompanhar as macaquices dele há alguns anos e de lê-las em “O Globo”, não num jornal eletrônico chinfrim, como nosso querido “DesBunde”. Mais do que isso nos distancia, devo ser honesto... Ele, o lendário João Ximenes Braga, é um ótimo escritor, é velho, gay e alternativo. Tirando a bebida e o mau humor, não sei dizer se há algo mais que nos aproxime.

Soube que o Dr. Ximenes participaria da equipe de roteiro de “Insensato Coração”, novela das 8 da Globo. Pois bem, tive a oportunidade de ver alguns capítulos dessa novela durante a semana. Infelizmente, não percebi as alfinetadas peculiares do João, nem mesmo um traço de sua vida doida.

Apesar de tudo, pude detectar acima da atuação canastríssima de Eriberto Leão, e da Glória Pires brincando de Beth, a Feia, uma fala. O personagem de Lázaro Ramos dizia à Camila Pitanga: “- Por que alguém traria uma criança prum bar?!”. Sim, amigos, João Ximenes está vivo e acena a seus amigos com o politicamente incorreto.

Seu inconfundível ódio a crianças em lugares públicos destinados a adultos conseguiu encontrar um respiradouro face à censura do agradável. Matei as saudades.

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P.S.: apesar de minha insistência em dizer que são poucos leitores; o Blogger, em suas estatísticas loucas, afirma que este é um jornal de circulação internacional. Desocupados na Turquia e em Cingapura (por quê, meu Deus?) têm entrado aqui. 

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P.S.2: em resposta ao Dr. Z. Leid Silva, devo partir em defesa do Big Brother. Esse programa, além de trazer diversão gratuita, mostra gostosas de biquini e permite assunto fácil com todo tipo de pessoa. Como diria um ex-participante: “ADOGO”!

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Memórias de ontem a noite

Por Z. Leid Silva

Em um PUB qualquer de Nova Iorque, as 2 da manhã e após tequilas, whiskys, cervejas e uma bebida alemã de nome de impossível reprodução, um amigo pergunta:
-Você acha que é tranquilo correr pelado no Central Park sem ser preso?
Imediatamente respondi:
-Só se você correr muito rápido!

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

A falta que o Big Brother me faz

por Z. Leid Silva

   Antes de mais nada, respondendo ao título, NENHUMA.
   Morando desde o final de Dezembro nos Estados Unidos, pela primeira vez em 10 (ou 11?) anos eu desconheço completamente os participantes do Big Brother Brasil e suas peripécias. O que, admito, foi difícil, afinal todos os sites que eu visito atualmente fazem alguma menção diária ao programa. 
   Na primeira pagina dO Globo Online para celular (que carrega apenas as 7 ou 10 notícias "mais importantes") abaixo da Renuncia do ditador Egípcio, da Dívida herdada por Dilma na presidência e a quantia paga pelo governador do Rio às Escolas de Samba lesadas com o incéndio na cidade do samba, estava a "notícia": "Fulano Venceu a prova do líder!"
Democracia no mundo árabe, economia do país e do estado comparado há 12 marmanjos brincando de gincana de festa infantil. Isso é serio?
 Em todas as outras páginas que eu freqüento sou bombardeado com informações irrelevantes sobre o programa. Nos sites de humor piadas sobre a sexualidade dos participantes, nos de música apresentações internacionais no programa são comparadas à mega shows, nos de fofoca verdadeiros dramas Shakespearianos e logicamente os pornôs apresetam flagras exclusivos de ação embaixo do edredon.
   E assim as celebridades são criadas. Há uns 6 anos atrás, em uma famosa boite careta de Ipanema, lá pelas 2 da manhã, quando o álcool agia no seu auge, eu tentava passar entre as pessoas para chegar ao banheiro. Depois de atravessar alguns metros me espremendo entre as pessoas subitamente se tornou impossível passar. Aguardei pacientemente por 4 minutos até que me irritei: "Porque que ninguém ta andando?"
Uma Patricinha de 17 anos se vira para trás e responde como se fosse óbvio: "O Kleber Bam-Bam está aqui!!!"
"Grandes merdas!" eu respondi. A menina se virou, irritada.
   Como se não bastasse, no show do Mr. Catra (O Poeta) que fechava a noite começou assim: "Vou cantar uma parada na moral, pro meu irmão! Anh-han Anh-han... É o bonde no Bam-Bam."
O homenageado então levanta do seu camarote e munido de uma garrafa de Champagne e um charuto cubano começa a dançar.
Já tinha passado da hora de ir embora!
Em Los Angeles eu vi o Anthony Hopkins, ator renomado, ja fez uma infinidade de filmes e já ganhou um oscar, circulando livremente em um restaurante. Já o Kleber Bam-Bam, que fez a turma do Didi causando o caos em uma boate de patricinhas. Qual o limite do ridículo?

 Por enquanto permaneço ignorando a nova edição. A próxima vez que eu for em uma night talvez eu fique menos decepcionado se eu não souber quem é o figurão.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

"Telefonema dos Desesperados" ou "Vem fazer Glu-glu"


Dr. Onofre.

Eu estava muito feliz. Céu azul, mar gelado, areia fina e branca. Estava no Coqueirão, mas ao mesmo tempo não parecia lá. Estranhamente não tinha ninguém gritando “OLHA O MATE!” ou “AÇAI, AÇAI!”, não tinha aqueles pombos que comem o lixo na areia perto da gente, nenhuma gorda à vista, nem som dos carros da Vieira Souto.

Apesar do cenário pouco usual não estava me importando nem um pouco. Estávamos na praia apenas eu e uma linda japonesa queimando ao sol. Como o leitor perspicaz já deve ter percebido, trata-se de um sonho. Desde quando é possível Ipanema sem barulho?! Cada uma que me aparece...

Antes de conseguir extrair qualquer material para análise desse comercial de perfume que meu sonho parecia ser, fui chamado à realidade por meu celular: quinta-feira de madrugada, silêncio, calor, necessidade de acordar cedo no dia seguinte e solidão (exagerei na pieguice, desculpem). Do outro lado da linha, um querido amigo de faculdade tenta, adianto que infrutiferamente, expressar-se em português driblando a bebedeira. Com ouvido clínico consegui decifrar:

“ – Ónóffffri... lembbbrrei di vôccccê... – Espero que tenha lembrado de pagar minhas contas, porque não tem a mínima chance do meu trabalho render amanhã, depois de ter sido acordado no meio da noite. Continuou o amigo: É qu’eu tô num pútttêro em Bbrrasília vendo um ssssshow do SSSérrgio Malllanddro...

Tá bom. Talvez, só talvez, tenha valido a pena sair da paradisíaca Ipanema-vazia-com-toque-oriental para ouvir essa frase. Essa foi uma das poucas vezes em que fui acordado e mantive o bom-humor. Depois de rir da situação, ouvir um “você é um amigão, cara... o XXX – outro amigo de faculdade nosso – não me atendeu” e refletir sobre a decadência do Dr. Malandro voltei a dormir.

Amanheci perturbado. Não por ter sido acordado por um amigo de porre, fenômeno etílico razoavelmente comum na minha casa; mas, por não consegui entender porque fui associado à putaria, à Brasília ou ao Sérgio Malandro. Se alguma das 3 pessoas que entram nesse site diariamente* ou nossa única seguidora, Mayara, souber a resposta, por favor escreva no espaço reservado aos comentários. Ou não... talvez seja melhor não saber...

Deixo vocês com um incrível vídeo do Reality do Serginho: a Casa dos Desesperados. Sim, aquilo é um sózia do Tim Maia.

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* Segundo estatísticas oficiais fornecidas pelo Blogger.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Profissão - Boris Y.

“Feito essa gente que anda por aí brincando com a vida, cuidado companheiro! A vida é pra valer, e não se engane não, tem uma só, duas mesmo que é bom ninguém vai me dizer que tem sem provar muito bem provado com certidão passada em cartório do céu e assinado embaixo: Deus. E com firma reconhecida!”

Assim dizem os versos do poetinha alcoólatra Vinicius de Moraes, nosso mito etílico. A vida é uma só e hoje, preso no escritório, comecei a me indagar indignado (estou sempre indignado com alguma coisa, quem me conhece sabe disso) porque só podemos ter uma profissão?!?!?

Sabendo da singularidade e efemeridade da vida, não seria melhor trocarmos de profissão, sei lá, de cinco em cinco anos? Mas o que eu faria se não trabalhasse com direito empresarial? Bem, há um monte de coisas que eu faria. Comecei a listar as próximas profissões do meu rodízio:

- Criador das manchetes do jornal Meia-Hora (eu sei, o cara que está lá é muito muito muito competente, mas eu confio no meu potencial)
- Vj da MTV (qualquer um pode ser)
- Julgador do “Video on Trial” (programa do canal de música “Much” que julga vídeo clipes).
- Dono de cartório
- Modelo e apresentador
- Comentarista do Manhattan Connection
- Comentarista de qualquer coisa
- Apresentador de um programa de viagens
- Colunista não importante do O Globo
- Promoter
- Convidado das rodas de discussão do Super-pop para assuntos diversos (os convidados são sempre um pastor evangélico, um travesti e uma prostituta qualquer, porque eu não poderia ser?)
- DJ
- Rico e famoso
- Agressor de pessoas que alimentam pombos
- Organizador de bloco de carnaval
- Ex-BBB
- Dono de motel
- Arquiteto de motel (há muito o que melhorar)
- Criador de vinhetas malucas da MTV
- Herdeiro
- A voz que fala só uma frase ou algumas palavras em músicas eletrônicas e dance/eurodance

Poderia estar 'roubãnu', poderia estar 'matãnu'; mas...

Dr. Onofre.

"- Sr. e Sra. passageiros, desculpe perturbar sua viagem... Eu poderia estar roubando, eu poderia estar matando; mas estou aqui oferecendo as maravilhosas balas free-gels..."

Quando ouvi esse texto irresistível a bordo do 157 com ar-condicionado quebrado e janelas vedadas em que me encontrava; soube, no ato, que perderia R$ 1,50. É que eu tenho esse problema, sabe?! Não consigo deixar passar a oportunidade de comprar Mentos ou Halls um pouco derretidos por alguns centavos a menos que na banca de jornal mais próxima.

Dessa vez a coisa era diferente. Fiz sinal para o pobre vendedor, que prontamente me atendeu. Entreguei-lhe uma nota de R$ 5,00, recebi dois saquinhos com um pacote de Mentos cada e R$ 3,00 de troco. O vendedor, talvez inspirado pelo COPOM ou selecionando seu público por estar num busão com ar, queria cobrar R$ 2,00 por dois pacotes de Mentos. 

Reclamei como consumidor consciente e pão duro que sou. A resposta foi surpreendente. Transcrevo o diálogo:

"- Aê, amigo.  faltando R$ 0,50 de troco.
  - Agora é R$ 2,00..."

Sentindo-me totalmente lesado e na certeza de que no Centro as balas ainda custam R$ 1,50, resolvi desfazer a venda:

"- Então valeu. Não quero mais. Toma aqui as balas e o troco e devolve meu dinheiro.
  - Tá tranquilo, amigo. Toma aqui o resto do teu troco, mas tu bem que podia fortalecer teu camarada..."

Peguei os louros da minha negociação e voltei para o IPod sem dar resposta ao infeliz que acabara de deixar R$ 0,50 mais pobre. Já tinha relevado o fato de ter sido tratado por tu e por camarada por esse senhor e estava pensando no orgulho que meu pai teria ao saber que uso os caros cursos de negociações de contrato que fiz com vendedores de balas, que nem devem ter o ensino médio completo, quando escuto:

" - Tomara que te tomem teu dinheiro, playboy!"

Como diria minha avó "nunca fui tão maltratada[o] em toda minha vida" e "o mundo está acabado". Hoje em dia, por qualquer R$ 0,50 as pessoas já rogam pragas umas nas outras. Na minha infância as pessoas eram mais educadas... Fiquei profundamente abalado com as energias negativas que esse pé de chinelo mandou pra mim; mas, como sou um homem pragmático, esqueci de tudo assim que comi a primeira bala de maçã verde e começou a tocar "Lust for Life" do Iggy Pop.

Foi só quando saia da praia que voltei a lembrar do maldito ambulante. Sua praga foi tão forte que pegou. Na hora de pagar minha barraca, percebi que todo o troco dado ficara no mar. Enfiei a nota amassada e as batalhadas moedas no bolso sem fêcho e perdi tudo na primeira onda. Iemanjá mancomunada com o baleiro, num trabalho de quadrilha, pegou à força meu dinheiro...

*     *     *

P.S.: gostaria de pedir desculpas aos meus 3 leitores pela inconstância das colunas.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Um Ensaio Sobre o Auto-Preconceito

por Z. Leid Silva

   Atualmente estou morando em Manhattan, um dos maiores centros urbanos do mundo e consequentemente uma salada cultural, com representantes de todas as partes do planeta.   Através de uma falta de atenção e de sutileza pude perceber que até Nova Iorque não esta imune do auto-preconceito (a capacidade de subjugar a si mesmo) de seus próprios cidadãos.    
   Como não poderia ser diferente visitei vários pontos turísticos nos primeiros dias. O Times Squares estava mais brilhante e piscante que o comum. O gelo no chão, consequência da nevasca do dia anterior, refletia quase que psicodelicamente as luzes dos murais de neon, enquanto trabalhadores e turistas andavam acelerados, disputando os poucos espaços de calçada sem neve ou gelo. 
   No meio do formigueiro iluminado, estava o vosso narrador, faminto, já que as andanças pela cidade são excelentes estimulantes de apetite, quase como um Biotonico Fontoura natural.
   Como bom judeu em NY optei por comida chinesa, da qual eu sentia muita falta, já que o prato mais típico chinês que se encontra no Rio é pastel. Lembrei que há alguns anos atrás, em uma outra visita a cidade, comi um chinês naquelas redondezas mas não me recordava o endereço.
   Depois de procurar exaustivamente no meio do caos, tive a genial idéia de perguntar à alguém. Decidi que uma banca de jornal seria o lugar ideal, graças ao conceito carioca que os jornaleiros são os Google Maps da era pré-smartphoniana.
Travei a seguinte conversa com a vendedora (tradução livre):
- Boa noite, a Sra. sabe aonde fica um restaurante chinês grande aqui no times square?
- Não, me desculpe, mas não conheço.
- É um restaurante chinês, bem grande. Fica em uma esquina.
- Não conheço.
- É um restaurante chinês, grande, famoso, aqui no times squares. Você deve saber...
- Eu realmente não sei. Na verdade eu não sou chinesa, sou coreana.

Nesse momento caiu a ficha. Na minha inocente cabeça eu estava pedindo informações de um restaurante chinês para um comerciante da região, na dela eu era um turista fanfarrão que pensa que todos os asiáticos são iguais e tem obrigação de conhecer todos os restaurantes típicos de Nova Iorque.
Desisti e fui comer uma pizza.