Dr. Onofre.
"- Sr. e Sra. passageiros, desculpe perturbar sua viagem... Eu poderia estar roubando, eu poderia estar matando; mas estou aqui oferecendo as maravilhosas balas free-gels..."
Quando ouvi esse texto irresistível a bordo do 157 com ar-condicionado quebrado e janelas vedadas em que me encontrava; soube, no ato, que perderia R$ 1,50. É que eu tenho esse problema, sabe?! Não consigo deixar passar a oportunidade de comprar Mentos ou Halls um pouco derretidos por alguns centavos a menos que na banca de jornal mais próxima.
Dessa vez a coisa era diferente. Fiz sinal para o pobre vendedor, que prontamente me atendeu. Entreguei-lhe uma nota de R$ 5,00, recebi dois saquinhos com um pacote de Mentos cada e R$ 3,00 de troco. O vendedor, talvez inspirado pelo COPOM ou selecionando seu público por estar num busão com ar, queria cobrar R$ 2,00 por dois pacotes de Mentos.
Reclamei como consumidor consciente e pão duro que sou. A resposta foi surpreendente. Transcrevo o diálogo:
"- Aê, amigo. Tá faltando R$ 0,50 de troco.
- Agora é R$ 2,00..."
Sentindo-me totalmente lesado e na certeza de que no Centro as balas ainda custam R$ 1,50, resolvi desfazer a venda:
"- Então valeu. Não quero mais. Toma aqui as balas e o troco e devolve meu dinheiro.
- Tá tranquilo, amigo. Toma aqui o resto do teu troco, mas tu bem que podia fortalecer teu camarada..."
Peguei os louros da minha negociação e voltei para o IPod sem dar resposta ao infeliz que acabara de deixar R$ 0,50 mais pobre. Já tinha relevado o fato de ter sido tratado por tu e por camarada por esse senhor e estava pensando no orgulho que meu pai teria ao saber que uso os caros cursos de negociações de contrato que fiz com vendedores de balas, que nem devem ter o ensino médio completo, quando escuto:
" - Tomara que te tomem teu dinheiro, playboy!"
Como diria minha avó "nunca fui tão maltratada[o] em toda minha vida" e "o mundo está acabado". Hoje em dia, por qualquer R$ 0,50 as pessoas já rogam pragas umas nas outras. Na minha infância as pessoas eram mais educadas... Fiquei profundamente abalado com as energias negativas que esse pé de chinelo mandou pra mim; mas, como sou um homem pragmático, esqueci de tudo assim que comi a primeira bala de maçã verde e começou a tocar "Lust for Life" do Iggy Pop.
Foi só quando saia da praia que voltei a lembrar do maldito ambulante. Sua praga foi tão forte que pegou. Na hora de pagar minha barraca, percebi que todo o troco dado ficara no mar. Enfiei a nota amassada e as batalhadas moedas no bolso sem fêcho e perdi tudo na primeira onda. Iemanjá mancomunada com o baleiro, num trabalho de quadrilha, pegou à força meu dinheiro...
* * *
P.S.: gostaria de pedir desculpas aos meus 3 leitores pela inconstância das colunas.
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