terça-feira, 19 de abril de 2011

Querido Diário ou Peregrinação.

Dr. Onofre.

Eram 7 e meia da noite e estava no Largo do Machado, numa praça em frente a uma Igreja gigante. Minha acompanhante e idealizadora do programa estava meia hora atrasada, escolhendo um cocar, certamente. Começou bem. Aproveitei para dar uns telefonemas e observar os resquícios de interior ainda vigentes no Rio. Saí cedo de mais de casa.

Enquanto esperava, pude ver como a vida é simples. Mesmo nessa cidade caótica, com apartamentos superinflacionadas e trânsito horroroso, as pessoas vão à praça, comem pipoca, fazem prossição, cantam hinos religiosos e carregam crucifixos, tiram sarro com uma menina do subúrbio. Deveria ter saído mais tarde de casa.

Quando a companhia chega, seguimos para o aniversário de um amigo num rodízio de pizza. E foi dada a largada. Ao contrário do resto da mesa que se delicia com pizza de churrasco e de strogonof, eu só bebo whisky. Deveria ter ficado bebendo em casa.

Saio de lá e cruzo a cidade. De volta ao Leblon, encontro amigos da faculdade no Bar da Praia. Mais whisky. Um breve programa, talvez devesse ter voltado pra casa

Telefono para outro amigo que acabou de chegar  de Nova York. Marco de sair, mas ele vai demorar. Faço hora no caidíssimo bar Tropeço. Encontro lá um amigo inglês - Jim -, que, acompanhado de gelo e tônica, me acompanha noite adentro. Por que não tô em casa?

Entro num coletivo com esse amigo judeu ortodoxo, monarquista e fanfarrão, totalmente bêbado. Putz... com certeza deveria estar em casa.

Entro num lugar bizarro no fim de Copa, tomo um gin. Reparo que além de vários conhecidos bêbados, que estavam lá para uma festa, só tinha gente estranha. Converso na área de fumantes desse porão com decoração duvidosa que é o Clandestino Bar. O nome talvez seja uma referência à vigilância sanitária. Um dos  esquisitos pergunta se meu amigo F.A. é gay. Meus amigos decidem partir pra outra. Tomo mais um gin e saio com eles, dessa vez com a certeza absoluta de que já deveria ter voltado pra casa há muito tempo.

Vou para um bar na Prado Jr. Lugar suspeitíssimo, mix de chineses e prostitutas. Bebo mais um pouco de gin, agora sem nem um resquício muito remoto de dúvida que deveria estar em casa. Converso um pouco. Olho o relógio - 4:00 da manhã. 

Entro num taxi com rádio crente, que paradoxalmente faz ponto no baixo meretrício carioca. Ali, nem seu quisesse teria bebida. Só torço para chegar logo em casa. Finalmente estou lá.

Tomar a decisão que sabia, desde o começo, ser a mais acertada me custou nove horas, algum dinheiro e muitos drinks. Tenho que dizer que só tive certeza do que fazer quando não tinha mais nenhum lugar aberto. E lá se vai mais um sábado.
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