Dicas para Reinaldo Moraes

Dr. Onofre.

Com certeza, você já teve uma decepção, caro leitor. Tanto faz se foi amorosa, no trabalho, ou intelectual. Poucas experiências são tão ruins como cair do alto de nossas expectativas para a realidade frustrante.

Minha decepção começou cedo. Acordei e peguei o jornal. Como é sábado, fui a procura do substituto de João Ximenes Braga, colunista d'O Globo que saiu da vida ingrata de cronista para trabalhar na TV. Pois bem, finalmente o jornal colocou alguém em seu lugar.

REINALDO MORAES, esse é homem de quem eu trato hoje. Sua crônica chama-se "Xô, chuchu!", um nome que revela muito sobre o novo dono do pedaço. É bem verdade que suceder João Ximenes não é tarefa para qualquer um, afinal, esse é um homem que escreve num dos maiores jornais do país sobre suruba, política, bebedeira e cidades mundiais. Alguém com um incrível senso de (mau) humor e sacadas afiadas.

Mas acho que a tarefa não é de todos impossível. Reinaldo Moraes, no entanto, passou muito longe disso. Seu artigo sobre o chuchu é um misto de sem graça com reclamações sobre dificuldade de escrever semanalmente. 

A falta de inspiração, o medo da folha em branco ou bloqueio volitivo (na linguagem mais esnobe) não só é um clichê de cronista, como é um saco para quem lê. Se você não tem nada para falar, não trabalhe no jornal. Por favor, não me conte seus problemas, Sr. colunista! Eu leio sua coluna, justamente, para poder-me distrair dos meus próprios, ou para saber sobre uma vida menos careta que a minha, ou ouvir críticas desbundadas num jornal sério. Se não, eu estaria lendo a coluna de economia ou o editorial.

O que Reinaldo não captou é que não temos nenhuma pretensão de saber sobre a história do chuchu, que só não é mais insosa que sua coluna. Não nos importa se ele é uma curcubitácea ou qualquer outra coisa. Uma das poucas coisas que nos interessa menos que a rotina do chuchu é saber o nada que um desconhecido (não) tem feito. 

Falta ao Reinaldo uma certa malícia. Ora, todos ficamos sem conseguir escrever, mas o segredo é não deixar o leitor perceber isso. Eu, por exemplo, acabo de travestir minha falta de inspiração em crítica literária. #Ficaadica